segunda-feira, 11 de junho de 2012

Tecnologias furtivas


Ando intrigada com esse tempo que se perde com o tempo que se ganha. Essa tecnologia maluca que nos dá e nos tira, nos concentra, nos distrai e retrai. Nem todo mundo está preparado para isso, mas se tem uma cidade que consegue dar quase na mesma medida que nos rouba tempo, é São Paulo!

Toda vez que passo um final de semana lá, é como se eu passasse uma semana. Obviamente que falo de finais de semana, onde o trânsito não é tão caótico. Mas o que me encanta é a contrapartida da cidade, que em poucas horas te inunda de informações, atualiza teus aplicativos internos e baixa downloads de sensações infinitas! Ora, mas isso tudo é uma situação muito particular e suspeita, pois eu adoro São Paulo! Gosto do dinamismo, das novidades, da cultura e nem todo mundo enxerga a cidade assim como eu.

Essa é a São Paulo que eu enxergo! E isso é muito relativo!

E costumo dizer: - a vida olha para você como você olha para a vida.

Mas e quando não olhamos para nada, e olhamos mais os nossos smartphones do que qualquer outra coisa?

Enquanto eu fazia "hora-bunda" aguardando os vôos no aeroporto, fixei os olhos no meu celular e fiz de tudo: compartilhei fotos, li textos de aula... olhos fixados na tela ... Enquanto isso a vida passando lá fora...ou melhor, ali mesmo não embaixo dos meus olhos, pois o celular estava ali haha!!! Mas a vida passava acima dos meus óculos!

Parei e olhei para ver o que acontecia no mundo real e percebi que ninguém me olhou...ops! Mas eu também não estava nem ai para ninguém!

Todos individualizados, inclusive eu, olhávamos nossas virtualidades...

Suspeitei que vida poderia estar olhando para mim, e eu nem aí para ela!

E se eu não olho a vida, a telinha do aparelho de celular estaria me devolvendo algum olhar?

Certamente que um olhar não, mas alguma visão, ou informação, ou especulação da vida alheia, ou da minha própria vida, alguma formação, entretenimento, etc ... mas e cadê o olhar que deveria ser devolvido a mim. Afinal, já que perco tantos olhares enquanto olho para o celular, seria mais do que justo!

A tecnologia parece uma bolsa aberta prestes a ser furtada!! Pega! Pega o ladrão tecnológico!!! Hahaha!!!

Visitei uma exposição de tecnologia e artes interativas em São Paulo chamada "Emoções Art.ficias", fiquei intrigada com uma arte sistêmica denominada i-flux. Era uma imagem projetada numa parede com um formato de uma arraia, e que transitava de um lado ao outro, acompanhada de sons estranhos. O guia da exposição nos explicou que a imagem e os sons eram alimentados com fluxos de informação de diferentes naturezas: redes internas do prédio, rede elétrica, rede hidráulica, além da entrada e saída de pessoas naquele espaço. Enfim, todos os dados formariam uma "criatura" projetada como uma constante chuva de luzes, portanto, uma espécie de regulador do ecossistema. Ao final da explicação ele afirmou que quanto menos fluxo de energia do local e a presença de pessoas, menos a criatura se movimentava. Além disso, quando o prédio se esvaziava os sons da tal criatura se intensificavam, como se clamassem por energia (!) Puts...pensei: - gente esse bichinho é muito carente!!! Hihihi!!

O conceito daquela obra, me fez pensar nas lógicas invertidas. Tantas pessoas se ausentando da realidade, enquanto a criatura tecnológica clama por energias reais e presenças humanas! E que paradoxal acharmos que ganhamos tempo com a virtualidade, enquanto perdemos tanto também! Abrimos janelas e links e fechamos tantas janelas de almas e compartilhamentos reais! Será que a "criatura" está se humanizando, enquanto optamos por não presenciar a vida? Estamos sendo furtados á luz do dia, e o pior, com o nosso consentimento!

Autoria: Claudia Coelho - 07/06/2012
Imagem: Google

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