domingo, 29 de janeiro de 2012

Por Hilda Hilst


Enquanto faço o verso, tu decerto vives
Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue
Dirás que sangue é o não teres teu ouro
E o poeta te diz: compra o teu tempo
Contempla o teu viver que corre, escuta
O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo
Enquanto falo o verso, tu não me lês
Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala
O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:
"Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas"
Irmão do meu momento: quando eu morrer
Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo
MORRE O AMOR DE UM POETA
E isto é tanto, que o teu ouro não compra
É tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto
Não cabe no meu canto

Imagem: Google

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Latitude urgente


É preciso mexer
no mecanismo dos ventos,
incendiar o medo, colocar
um rock-frevo no toca-discos.


Compor atmosfera nova,
sabotar o tempo,
parir temperatura leve, aquecida.


Diminuir a pressão
em todas as altitudes,
diminuir a pressão
de todas as atitudes.


Mas, sobretudo é preciso
soltar a fera de um novo amor.


Autoria: Mario Pirata (Jan.2012)
Imagem: Google

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Arte



eu – uma tela em branco
pincéis e aquarela
impulso
cores entrelaçadas
jogadas por minhas mãos
na tela – jogo de sedução
pincéis intactos
apreciam a cena
entendem
momento ímpar
limite entre realidade e ficção
necessidade de extravasar a emoção


arte?
não! solidão!


RR - 07/01/2012
Imagem: Google

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Mãe



já sonhei com anjos
arcanjos,
demônios
amores duradouros
poucos choros

          hoje sonho
          com auxílio
          prá cuidar de um ser
          que é leve
          talvez breve
          desejante de carinho
          aninha-se no seu ninho
          sem forças prá lutar

ama
faz drama
mas é “nossa”
não podemos esquecer

04/01/2012
Imagem: RR em 31/12/2011

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

A função da arte / 1


"Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar.
Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
- Me ajuda a olhar!"



Eduardo Galeano – O Livro dos Abraços
Imagem: Google